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"Verdade intrínseca, relacionada ao inteligível, intelecto plausível de meu ser... À essência."

abril 07, 2017

a carta

Xerém, 7 de Abril de 2017.

Enfim, a sós.

Eu voltei a escrever com afinco. Deixei a poesia e os versos fluírem por minha mente até refletir no digitar de cada tecla ou toque. Regojizo-me ao saber que o efeito disso auxilia amigos, familiares, mas mais que isso, a mim. Voltei a colorir meu caderno e o meu jardim interno, onde vejo, não um jardim, mas um campo lindo e no fundo está o mar. Sim, sou amante das águas e não mais temeroso das tormentas, sei que a bonança chega à todos e que mar calmo, não necessariamente, resulta em um marinheiro apto a navegar por onde bem entender.

Acho que o primeiro passo está em admitir para si o que buscamos fugir, para a partir daí, conseguir tocar na ferida e trabalhar constantemente em algum tipo de solução. As vezes, é bom lembrar, que o tempo é o maior medicamento e, bem, natural. Nos resulta nas mais longínquas viagens e nos mais profundos mergulhos. Somos prisioneiros e libertados, ao mesmo momento e o que muda é a sutileza que consiste a percepção do que é prisão e do que é a vastidão que nosso ser pode atingir.

Afirmo isso com a certeza de que estou aprendendo, bem aos poucos, o que é o amor próprio. E nessa forma de caminhar pela corda bamba, o equilíbrio é o meu próprio contato com o Deus que habita em mim. Falar com Deus, conversar com ele, pedir ajuda e força para seguir nesta jornada. Respirar a cada repetição que não seja benéfica e não desistir. Mesmo na prisão social que nos encontramos, possuímos a chance diária de fazer, em nosso agora, a diferença que pensamos estar tão longe... Como mencionei, é a sutileza que distingue o que nos separa do nosso próprio espelho, que se não o outro, nós (o ego).

E de tantos momentos sutís, é com muita leveza que devemos realizar essa peregrinação. Ser firme durante as tormentas do mar bravo e manter a calma e a tranquilidade para qualquer desafio vindouro. Estamos em uma viagem e bem, em algum momento chegaremos ao nosso destino. A nossa passagem solo, mas bem acompanhada e amparada (de acordo com nossa postura durante essa travessia).

Nos prendemos a muitos detalhes superficiais e esquecemos que a vida acontece no desapego. Na dinâmica constante das moléculas que compõem cada parte de nossa matéria e cada pedaço do todo à nossa volta. Somos pó estelar e à ele retornaremos. Mas o que deixaremos registrado, molecularmente ou não, a quem amamos e queremos o bem?

Essa é a pergunta que hoje, percebo a importância de realizar e dizer que o desapego não depende, exclusivamente da dor, mas da intensidade que colocamos em cada momento que o nosso Eu registra. Cada saudade de revisitar certas alegrias ou sustâncias que insistimos em acreditar que suprirá nossas necessidades do agora. Ainda estamos sobre a força do tempo! E o passado não condiz com o presente, muito menos o futuro, o qual mal sabemos no que resultará.

Viver o aqui e o agora é um exercício diário. E a vida nos chama, à cada instante, para aproveitarmos as percepções que podem nos auxiliar, seja durante a peregrinação ou ao fim da jornada. Portanto, como uma carta de amor, aproveite essas sutilezas que és capaz de perceber. Se tu se achas incapaz disso, respire fundo e pense na calmaria e tranquilidade, quanto a tua matéria e quanto aos teus pensamentos. Assim, poderás bloquear o dispensável e permitir que o necessário permeie teu ser com as sementes de luz e amor que tu realmente precisas.

E se ainda insistires em morder a própria cauda, tal qual a cobra que remete ao eterno retorno, bem... Saibas que a mesma força que tu usas direcionada a isso, pode também impulsionar-te para fora desta grande roda que não cessa, até tu permitires seu fim.

Daí, creio eu, conseguiras ver o que realmente importa e o teu estado natural: a felicidade. O sorriso que emanas quando estás em paz, a verdade nas palavras de quem não deseja mentir mais, a serenidade em cada momento e movimento em relação ao outro e o principal, a fé e o amor para consigo e com o Todo.

Que habita em nós,
Agora e após,
E a qualquer ser que respira deste poder.

R.

abril 06, 2017

cinzas ao mar.

Oi, tudo bem?

Tudo, tudo bem é algo muito relativo. Mas eu acredito, hoje, que realmente esteja tudo bem. Caso ainda não esteja, bom... O tempo revelará.
Me vem um frio na barriga, ao pensar em escrever sobre isso, mas foi um impulso que recebi então... O que pretendo narrar aqui, pouco sei sobre alguém ler, mas sei que será a minha carta para o meu mais profundo íntimo. Em um intuito de tentar visualizar com clareza e renovar o que tiver que ser renovado.

Me sinto no limbo. Emocional.

Não, não estou deixando de sorrir ou caindo em prantos, mas esse estado é tal qual olhar de cima de uma pedra, o mar. O horizonte e tudo o que pode existir por lá.
Minha vida toda foi uma luta constante pelo apego, em relacionamentos baseados em tapa-buracos e na fuga constante do que eu realmente queria ou que sentia.
Comecei, dentro de mim, com a mentira de que poderia suportar qualquer coisa para estar com alguém... Desde que aquela pessoa me aceitasse e me visse como sou. Mas o grande detalhe está aqui: ela me viu como eu sou e também viu o que eu estava disposto a suportar... Ou seja, o que eu não era.
Dentre os tombos e solavancos desse ônibus, eu sentei na janela, olhei a paisagem e vi o abismo... Mas me encantei com ele e achei que não estaria lá... Exatamente, naquele rio que eu observava de cima do penhasco e que achava que não era frio o bastante. É frio e bem... Chega a congelar os ossos.

Eu segui, dentre uma série de imaturidades e impulsos, na tentativa de sair dele, me erguer e tentar encontrar um canto quente e um aconchego. Estava fragmentado... E bem, me deparei com outro ser assim. Nos ajudamos e nos amamos, mas também tapamos grande parte dos nossos buracos e eu segui na ilusão de suportar, mais uma vez o que não podia: o que eu não sou. Mas veja bem, não digo sobre uma mentira mesquinha sobre inventar qualidades que não tenho... Não... Digo sobre mentir pra si mesmo, achando que nada pode me atingir ou incomodar, pois eu sou aceito por alguém!
É. Foi isso que me prendeu e durante esse processo de saída do rio, montamos nossa fogueira e rimos, contamos histórias, nos conhecemos, mas no fundo... Bem lá dentro, sabíamos o que aconteceria se as coisas continuassem da forma como estavam. Aconteceu.

Me vi só e na tentativa absurda de não me despedaçar de novo, entrei no rio. Dessa vez, já sabia o quão frio ele era e o quanto poderia suportar, mas o principal: sabia que tinha que sair dele, agora... Por conta própria.
Comecei essa peregrinação. Encontrei outras pessoas que também olhavam para dentro de si e viam, em seus rios gélidos, a necessidade de se levantar e caminhar. Montar uma fogueira, respirar e se aquecer, mas sem tapar seus buracos... Isso é bem difícil, mas qual a força que damos pra isso?
Encontrei uma família que me acolheu. Me aceitou do jeito que eu sou e me mostrou que não é fugindo que se resolve algo, mas sim, percebendo o momento preciso do ciclo presente no espaço-tempo que vivemos. E a partir disso, desse sutil momento, trabalhar na cura.

Alguns meses já se passaram depois que soube que deveria sair do rio e sai dele. Ainda possuo resquícios de suas águas gélidas e também retorno a sua margem com meus hábitos infundados em uma verdade maior que quero seguir e acreditar. Plena.
Me encantei novamente... E dessa vez por uma alma que monta sua própria fogueira e cuida com muita calma e delicadeza dos seus próprios buracos. Me encantei até saber que estava prestes a repetir os mesmos hábitos (se não os mantive). Até perceber a arte do desencanto e sua necessidade mais uma vez.

O fato de estar me sentindo no limbo é porque quero, constantemente, buscar por padrões que desejo abdicar e por saber que agora é tudo novo. Como o primeiro dia na próxima série. Como o primeiro interesse sobre ir em algum lugar. A primeira emoção ao sentir os lábios se tocarem (não, não deixo a carência agir aqui)... Como o primeiro dia de uma vida que tende a ser a jornada, tal qual os jogos que sempre encontrei a maior diversão. Dessa vez, não é um personagem montado, mas eu sou o protagonista disso tudo. E eu sei... Tenho esses conceitos até nítidos na mente, mas a prática é que vai com muita calma.

Acho que tentar escrever para enterrar algo, bem, não é o meu forte. Então, eu deixo as cinzas do que tudo isso já foi para o mar. É nele que está todo o poder e dele vem o frescor que alimenta o meu peito nessa nova jornada.
Ainda insisto em alguns padrões... Ainda vou. Mas sei que vou perseverar...

E o que quero dizer com isso tudo? Não que precise de um desfecho incrível para um monte de palavras soltas. O que quero dizer é que preciso orar. Ter fé e paciência. Hoje me sinto na fogueira novamente, bem, ao lado dela. Amanhã, pode ser que eu suba um pouco mais desse penhasco que caí. E o tempo dirá o quanto subirei... Talvez eu não perceba, talvez eu siga na trilha em um outro ônibus, mas dessa vez, mais seguro quanto a condução.

Talvez não, com certeza.